Nos últimos anos, a ideia de sustentabilidade ganhou destaque como um modelo de desenvolvimento que busca equilibrar as necessidades humanas com a preservação do meio ambiente. No entanto, diante das crescentes crises ambientais e da contínua degradação dos ecossistemas, a sustentabilidade, por si só, já não parece suficiente. Precisamos ir além. É nesse contexto que surge o conceito de educação regenerativa, uma proposta que não apenas visa manter os sistemas naturais, mas regenerá-los, reconstruindo ecossistemas e transformando a relação entre a sociedade e o meio ambiente.
A educação regenerativa propõe uma abordagem holística, que considera a interdependência entre seres humanos e a natureza. Inspirada por práticas de restauração ecológica, saberes tradicionais e uma nova economia que respeita os limites planetários, essa visão educacional busca formar indivíduos capazes de atuar de forma ativa na recuperação dos ecossistemas e na construção de uma sociedade mais justa e equilibrada. As escolas, como ambientes de formação de cidadãos, desempenham um papel central nesse processo, e iniciativas como o Desafio Escolas Regenerativas, da empresa Meu Pé de Árvore (MPA), oferecem um exemplo prático de como a educação pode ser transformada para além da sustentabilidade.
Educação/Escolas Regenerativas: Um Novo Paradigma
A ideia de regeneração vai além da simples conservação do meio ambiente. Enquanto a sustentabilidade visa manter os recursos e evitar o esgotamento, a regeneração procura restaurar o que foi danificado e criar condições para que a natureza se renove. Segundo Stephen Sterling, em Sustainable Education (2001), a educação para a sustentabilidade já introduz a necessidade de transformação dos sistemas educacionais, mas a educação regenerativa dá um passo adiante, promovendo uma cultura de cuidado, restauração e reconexão com o ambiente natural.
No contexto educacional, isso significa ensinar aos alunos não apenas a "não fazer mal", mas a "fazer o bem", promovendo o entendimento de que todas as ações humanas têm impacto, e esse impacto pode e deve ser positivo. A educação regenerativa envolve o desenvolvimento de habilidades práticas para restaurar ecossistemas, como o plantio de árvores, a restauração de bacias hidrográficas e a implementação de sistemas agroflorestais, em paralelo ao cultivo de uma consciência crítica e ecológica.
A Meu Pé de Árvore exemplifica como esse tipo de educação pode ser implementado em larga escala, ao propor que escolas ao redor do mundo plantem suas próprias florestas na Amazônia. A cada árvore plantada, não só se restaura uma área degradada, mas se promove uma educação que vincula diretamente os alunos à restauração ecológica e ao empoderamento das comunidades indígenas que participam do projeto.
Restauração Ecológica e Educação
A restauração ecológica é uma ciência dedicada à recuperação de ecossistemas degradados, e é uma prática fundamental dentro da educação regenerativa. A obra de Young e Schwartz (2004) em Ecology and Restoration explora como práticas de restauração podem ser integradas à educação. Em vez de apenas estudar a teoria da ecologia em sala de aula, os alunos participam de atividades práticas de restauração, como reflorestamento e recuperação de nascentes, aprendendo sobre a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos de maneira imersiva.
O Desafio Escolas Regenerativas, promovido pela Meu Pé de Árvore, segue essa linha ao incentivar que cada escola adote uma área para reflorestar. A ação prática de plantar árvores e monitorar seu crescimento ao longo do tempo dá aos estudantes a oportunidade de ver o impacto direto de suas ações na recuperação do bioma Amazônia. Além disso, o uso de tecnologias como o monitoramento via satélite, por meio da plataforma "Meu Território", permite que as escolas acompanhem a evolução das áreas reflorestadas em tempo real, criando uma relação de longo prazo com o processo de regeneração.
A regeneração não se trata apenas de restaurar a paisagem natural, mas também de criar condições para que as comunidades locais possam prosperar. No caso do projeto Meu Pé de Árvore, os reflorestamentos ocorrem prioritariamente em territórios indígenas, promovendo a soberania alimentar e a autonomia financeira das comunidades envolvidas. Essa abordagem é essencial, pois alinha as práticas regenerativas com a justiça social, algo que a educação regenerativa precisa considerar.
Saber Tradicional e Regeneração
Um dos pilares da educação regenerativa é o respeito e a valorização dos saberes tradicionais, especialmente aqueles relacionados à gestão de recursos naturais. Fikret Berkes, em Sacred Ecology (2012), discute a importância dos conhecimentos indígenas na restauração de ecossistemas e no manejo sustentável das paisagens. Esses saberes, desenvolvidos ao longo de gerações, oferecem uma visão sistêmica do ambiente e práticas de manejo que são profundamente regenerativas.
Na Amazônia, onde os impactos da degradação ambiental são particularmente severos, as comunidades indígenas desempenham um papel fundamental na preservação e regeneração do bioma. Projetos como o das Escolas Regenerativas, que envolvem diretamente povos originários na implementação das ações de reflorestamento, são exemplos de como a educação regenerativa pode promover uma troca cultural valiosa entre estudantes e essas comunidades. O contato direto com os povos indígenas, através de atividades educacionais, permite que os estudantes aprendam com as práticas ancestrais de manejo da floresta, e que desenvolvam uma visão mais holística sobre a relação entre seres humanos e a natureza.
Economia Regenerativa: Fundamentos para uma Nova Educação
A transição para uma educação regenerativa não pode ser feita sem repensar o próprio sistema econômico no qual estamos inseridos. A economista Kate Raworth, em seu livro Doughnut Economics (2017), propõe um modelo econômico que vai além do crescimento contínuo e do consumo ilimitado, respeitando os limites planetários. Ela defende que é possível prosperar dentro desses limites ao adotar uma economia regenerativa, que reintegra as atividades humanas com os ciclos naturais, em vez de destruí-los.
Esse conceito de economia regenerativa pode e deve ser integrado à educação. Em vez de educar para um mercado de trabalho focado apenas no lucro e na produtividade, as escolas devem preparar os alunos para atuarem em um mundo onde a regeneração do ambiente e a justiça social sejam as prioridades. O Desafio Escolas Regenerativas já faz isso ao vincular o reflorestamento ao desenvolvimento econômico das comunidades indígenas, mostrando aos alunos como é possível conciliar o crescimento econômico com a regeneração ambiental.
A Transformação das Escolas em Espaços de Regeneração
David Orr, em Earth in Mind (2004), defende que a educação tradicional, centrada na acumulação de conhecimento técnico, é insuficiente para enfrentar as crises ambientais globais. Ele argumenta que as escolas precisam se tornar agentes ativos de regeneração, transformando-se em locais onde os alunos possam aprender não apenas a teoria, mas também a prática da restauração ecológica e da construção de comunidades sustentáveis.
Iniciativas como o Desafio Escolas Regenerativas ilustram como as escolas podem ser transformadas em espaços de regeneração. Além de plantar árvores, as instituições de ensino que participam do projeto são incentivadas a incorporar práticas regenerativas em seu currículo, promovendo uma educação que é ao mesmo tempo ecológica e prática. A interação direta com o meio ambiente, através do reflorestamento, e com as comunidades indígenas, proporciona aos alunos uma educação mais ampla, conectada com a realidade socioambiental global.
Esse processo também promove uma gamificação do aprendizado ecológico, ao permitir que escolas de diferentes partes do mundo participem de uma competição saudável para ver quem consegue plantar mais árvores. Isso engaja os alunos de maneira lúdica e os motiva a se envolverem ativamente na regeneração ecológica.
Reflexão Final
O conceito de escolas regenerativas oferece uma perspectiva nova e necessária para o futuro da educação. Através da prática de reflorestamento, da valorização dos saberes tradicionais e da promoção de uma economia regenerativa, as escolas podem ir além da sustentabilidade e se tornarem agentes de regeneração, tanto ambiental quanto social. Iniciativas como o Desafio Escolas Regenerativas são exemplos concretos de como essa transformação pode ser realizada, mostrando que educar para a regeneração não é apenas possível, mas urgente!
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