O projeto Amazônia 4.0, idealizado por Carlos Nobre (cientista e pesquisador da USP), tem como finalidade principal mostrar o imenso potencial socioeconômico que a Floresta Amazônica possui se a mantivermos em pé!
Implementando os preceitos da Bioeconomia Bioecológica, a ideia do projeto é unir pesquisa e altas tecnologias para desenvolver produtos e serviços utilizando uma das maiores riquezas da Amazônia: sua biodiversidade.
Infelizmente, a Amazônia já perdeu cerca de 20% de suas florestas devido ao desmatamento e exploração indiscriminada de seus recursos. Caso não sejam tomadas medidas urgentes para mitigar essa onda de destruição, os biomas amazônicos começarão a entrar em um processo de savanização em pouquíssimo tempo.
Esse resultado afetará não só as milhares de famílias que vivem na Amazônia, mas também o restante da América Latina. Afinal, é graças à imensa quantidade de vapor d’água que a floresta produz que temos chuvas no restante das regiões do Brasil, bem como em outros países da América do Sul.
A Amazônia sempre foi uma fonte abundante de prosperidade em diversos aspectos. Contudo, a forma predatória que exploramos suas riquezas chegou a um ponto insustentável. Por isso, precisamos de uma mudança radical de paradigma para que possamos usufruir de seus recursos sem precisar destruí-la.
Foi com esse objetivo em mente que surgiu o Amazônia 4.0. Quer saber mais sobre como funciona esse projeto? Então, continue a leitura!
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A importância da Amazônia para o mundo
A situação atual da Floresta Amazônica é uma preocupação mundial quando o assunto é mudanças climáticas, afinal, ela é essencial para o ciclo de sequestro de carbono do planeta.
Além disso, o seu desmatamento é responsável pela liberação de milhões de toneladas de carbono na atmosfera. Cerca de 50% da emissão de gases do efeito estufa do Brasil vêm do desmatamento da Amazônia.
Por isso, para que se cumpra o Acordo de Paris, que tem como objetivo manter a temperatura terrestre abaixo de 2°C (em relação à média pré-industrial), é preciso frear bruscamente qualquer tipo de atividade que promova a destruição da região amazônica.
Outro papel importantíssimo que a Amazônia possui, que já citamos brevemente, é em relação aos ciclos de chuvas. As árvores da floresta absorvem do solo uma imensa quantidade de água por dia e transpiram para a atmosfera. Toda essa água, liberada pelo processo conhecido como evapotranspiração, formam os rios voadores que irrigam a própria floresta, e também outras regiões do Brasil como o sudeste e o centro-oeste.
O desequilíbrio neste ciclo resulta em períodos de seca cada vez maiores. A diminuição das chuvas afeta, por exemplo, o abastecimento das hidrelétricas, que ainda são a principal fonte de energia do nosso país.
Além disso, a agricultura também é muito influenciada, pois a falta de água afeta diretamente na produção de alimentos. Lembrando que o Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, ou seja, nós não seremos os únicos prejudicados.
A Amazônia possui uma lista imensa de motivos, além dos já citados, que nos mostram que ela precisa de um modelo econômico sustentável que preserve suas florestas, sua biodiversidade e seus ecossistemas.
Amazônia 4.0: agregando valor para os produtos da floresta
Você já ouviu falar da semente de cumaru, do puxuri ou da flor de jambu? Todos estes insumos são ingredientes tipicamente amazônicos, que são pouco conhecidos no restante do Brasil.
Além de serem comercializados como produtos alimentícios na região norte, esses ingredientes são bastante populares entre as comunidades tradicionais da Amazônia por suas propriedades medicinais.
O jambu, por exemplo, é usado pelos indígenas para aliviar tosse, dor de garganta e até mesmo dor de dente. Suas flores possuem uma substância chamada espilantol, que tem efeito anestésico.
Já o cumaru é famoso por ser um excelente remédio natural para melhorar gripes, resfriados e bronquite. Além disso, suas sementes, quando fermentadas, são usadas para tratar picadas de cobras. Inclusive, existem estudos que mostram que o cumaru possui muitas propriedades anti-inflamatórias.
Esses são alguns dos exemplos de produtos da floresta que possuem grande potencial econômico. Ao unir pesquisas e novas tecnologias é possível transformar estes insumos, que muitas vezes são comercializados em sua forma primária, em subprodutos com alto valor agregado.
Essa é a proposta do Amazônia 4.0: aliar tecnologia de ponta, ciência, sustentabilidade, e recursos biológicos na criação de itens alimentícios, farmacológicos, biodegradáveis… Além disso, não podemos esquecer de outro ponto importantíssimo deste projeto, que é a inclusão das comunidades tradicionais amazônicas em todos os processos!
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Amazônia 4.0: empoderando as comunidades amazônicas
A Bioeconomia Bioecológica, modelo de desenvolvimento proposto pelo Amazonia 4.0, também tem como pilar a valorização da riqueza cultural dos povos da floresta. Estima-se que antes da chegada dos Europeus, muitos grupos indígenas já habitavam a Amazônia há mais de 2 mil anos.
O modo de viver em harmonia com a natureza é um dos maiores ensinamentos que precisamos aprender com os povos originários. Além disso, como citamos, os indígenas, ribeirinhos, quilombolas, entre outros grupos sociais, possuem um profundo conhecimento sobre as árvores, as plantas, os animais, os rios, e tudo que engloba a natureza à sua volta.
Toda essa sabedoria ancestral será um peça-chave na elaboração sustentável de produtos e serviços que utilizarão como base os recursos da biodiversidade. Por isso, o Amazônia 4.0 também tem como objetivo a capacitação das comunidades amazônicas para que elas façam parte dos processos de pesquisa, desenvolvimento, produção e comercialização.
A execução efetiva do projeto irá gerar mais empregos, incentivará a economia rural e urbana da região amazônica, e promoverá uma distribuição mais justa dos lucros e benefícios obtidos com as atividades. Mas, para isso, é preciso de políticas públicas que facilitem a implementação e crescimento do projeto, além de investimento, tanto do governo, como de instituições privadas.
Laboratórios Criativos da Amazônia
Os Laboratórios Criativos da Amazônia (LCAs) são estruturas itinerantes que vão circular entre diversas comunidades para promover a capacitação da população local, realizando pesquisas e experimentações para demonstrar o potencial econômico dos produtos da floresta.
O LCA Cupuaçu-Cacau, por exemplo, explora processos sustentáveis utilizando tecnologias da indústria 4.0 para a produção de cupulates, utilizando o cupuaçu e amêndoas de cacau. A previsão é que este laboratório comece sua trajetória pela Amazônia no primeiro trimestre de 2023.
Outros insumos também já estão em fase de pesquisa, como é o caso do Açaí, da Castanha do Brasil e dos Azeites Amazônicos. Além disso, também está em estágio inicial o LCA Genômica, que se dedicará ao sequenciamento do genoma.
Quer saber mais curiosidades sobre este projeto? Então, recomendamos que você assista ao documentário premiado “Amazonia 4.0: The Reset Begins”, disponível no Youtube.
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