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Por que o Brasil tem grande potencial no setor da Bioeconomia?

Apesar do termo Bioeconomia estar super em alta nos últimos tempos, sua prática já vem sendo desenvolvida há alguns anos por vários países, inclusive pelo Brasil. De forma bem resumida, a bioeconomia é a área que une o investimento em ciência e novas tecnologias para produzir, de forma sustentável, produtos e serviços que utilizam como base recursos biológicos.


Este modelo econômico vem sendo apresentado como uma solução viável para várias problemáticas atuais, como por exemplo as mudanças climáticas. Além disso, a bioeconomia também é vista por muitos especialistas como a resposta que precisamos para mitigar o desmatamento na Amazônia, preservar as florestas e a biodiversidade, proteger os ecossistemas e promover um desenvolvimento sustentável com inúmeros benefícios.


Mas, é preciso compreendermos que existem diferentes tipos de bioeconomia e nem todas elas colocam como prioridade a preservação do meio ambiente e valorização da diversidade biológica. A Amazônia precisa de uma economia que mantenha a floresta em pé, preze pela conservação do solo e dos rios, valorize o conhecimento e sabedoria ancestral dos povos tradicionais da região, e gere fontes de renda e riquezas sem comprometer os recursos para as gerações futuras.


Neste artigo vamos entender melhor o que é bioeconomia, quais as suas vertentes e porque o Brasil pode se tornar uma potência mundial neste setor. Boa leitura!


Fonte: Canva.


Diferentes Linhas da Bioeconomia


O conceito de Bioeconomia é bastante amplo e é utilizado em diferentes contextos. Para muitos países desenvolvidos que investem fortemente neste setor, a Bioeconomia está bastante relacionada à transição energética, bem como à redução significativa dos gases do efeito estufa nos processos industriais.


Apesar de vermos este termo constantemente vinculado à sustentabilidade, é bastante claro que algumas vertentes não colocam isso em primeiro lugar. Entenda melhor a perspectiva de algumas linhas da Bioeconomia na atualidade:


Bioeconomia Biotecnológica


A Bioeconomia Biotecnológica é bastante focada na aplicação de novas tecnologias baseadas nas ciências biológicas, ou seja, as inovações desenvolvidas são fruto de pesquisas e modificações de organismos vivos em diferentes níveis (molecular, celular…).


Essa vertente está ancorada na hipótese de que a aplicação destas tecnologias nos processos de produção consequentemente resultam em uma maior eficiência ambiental. Mas, segundo alguns autores, esta linha da bioeconomia ainda está muito atrelada ao aumento da produção e crescimento econômico da indústria.


Em outras palavras, a pesquisa na área da biologia é vista como um meio para criar diferentes tecnologias que intensifique a produção, gere mais empregos e movimente mais o comércio. Tal perspectiva não é ruim ou equivocada, porém, na visão de especialistas que defendem outras vertentes, a Bioeconomia Biotecnológica peca em não colocar como prioridade a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente.


Fonte: Canva.


Bioeconomia de Biorrecursos


A Bioeconomia de Biorrecursos já possui uma preocupação maior com a biocapacidade do planeta, ou seja, com a capacidade que a terra tem de fornecer alimentos e serviços ecossistêmicos, se regenerar e absorver os resíduos que produzimos.


Esta linha é bastante focada na exploração e pesquisa de biomassas, que são resíduos de fonte vegetal e animal usados na produção de energia. Entretanto, uma das críticas a esta vertente é em relação às monoculturas de soja e milho, por exemplo, destinadas à fabricação de biocombustíveis, que além de continuarem desmatando áreas florestais, são prejudiciais a longo prazo para a saúde e produtividade dos solos.


Bioeconomia Bioecológica


A Bioeconomia Bioecológica tem como foco principal a implementação da sustentabilidade em todos os seus processos. Os ganhos ambientais, como a preservação de ecossistemas, conservação das florestas e a recuperação de áreas degradadas, são vistos como superiores aos ganhos econômicos.


Além disso, a valorização da diversidade biológica no desenvolvimento de produtos e serviços, aliado à pesquisa científica e inovação, também é primordial. Lembrando que a Bioeconomia Bioecológica tem como pilar a economia circular, que vem contrapor o paradigma tradicional linear (extração-produção-consumo-descarte).


Na perspectiva da economia circular, aquilo que seria descartado (resíduos) volta a participar do processo de produção, ou seja, eles são reintroduzidos como matéria-prima. Além disso, o processo de extração é muito mais consciente, pois são avaliados critérios como disponibilidade e tempo de renovação dos recursos.


“Esquecemos do nosso maior potencial”- Carlos Nobre


Fonte: Canva.


Na década de 60 e 70, o Brasil implementou planos estratégicos para ganharmos autonomia em alguns setores. Iniciou-se, por exemplo, a construção de hidrelétricas para a produção de energia. Além disso, foi lançado o Proálcool (Programa Nacional do Álcool), que tinha como objetivo nos desvencilhar da dependência do petróleo.


Também tivemos a criação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que propiciou ao nosso país desenvolver um modelo de agricultura e pecuária adequado ao nosso clima tropical. Isso nos possibilitou diminuir drasticamente a exportação de alimentos e nos tornou uma potência neste setor.


Contudo, segundo o cientista brasileiro Carlos Nobre, nos “esquecemos” do maior potencial que o nosso país possui, que tem capacidade de levar o Brasil para outro patamar econômico: a biodiversidade.


O Brasil tem uma incrível multiplicidade de biomas terrestres (caatinga, mata atlântica, amazônia…), além de possuir três grandes ecossistemas marinhos. Sua enorme extensão territorial possui variadas zonas climáticas que abrigam mais de 46 mil espécies de plantas e cerca de 116 mil espécies de animais.


Ocupando o primeiro lugar no ranking de países com maior quantidade de água doce do mundo, os rios brasileiros abrigam mais de 25 mil espécies de peixes (representando um quarto de peixes de água doce do planeta).


Apesar do alto nível de desmatamento, o Brasil ainda está entre os cinco países que detêm as maiores áreas de mata virgem do mundo, ou seja, regiões que não sofreram com os impactos das atividades humanas, e que possuem ecossistemas inexplorados.


Lembrando que as florestas intactas são de suma importância para o desenvolvimento de pesquisas biológicas, pois elas são um berço de valiosas informações genéticas. Além disso, os ecossistemas virgens, tanto terrestres como marinhos, auxiliam no controle de eventos climáticos e amenizam os efeitos de desastres naturais.


Se a diversidade de recursos biológicos que os biomas brasileiros possuem tivessem sido estudados e valorizados desde a década de 70, provavelmente nossa economia seria muito mais desenvolvida e próspera. Afinal, teríamos anos de acúmulo de pesquisas e tecnologias que nos colocaria à frente de muitos países no setor da bioeconomia.


Mas, a realidade é que o Brasil ainda possui poucos investimentos e incentivos em pesquisa e inovação, principalmente por parte do governo, que nos possibilite alavancarmos nesta área. Enquanto isso, alguns países desenvolvidos já viram o grande potencial que os conhecimentos biológicos possuem para solucionar problemas econômicos, sociais e, sobretudo, ambientais.


Bioeconomia na Amazônia


Segundo dados da Embrapa, a Amazônia possui 30 mil espécies de plantas, 1800 espécies de peixes, 1300 espécies de aves, 311 espécies de mamíferos, 350 espécies de répteis e 163 espécies de anfíbios. Toda essa biodiversidade são ingredientes essenciais para o progresso da Bioeconomia.


Fonte: Canva.


Um estudo recente realizado por cientistas da Unifesp e do Instituto Butantan mostraram que as toxinas oriundas de uma tarântula nativa da Amazônia têm grande potencial para o desenvolvimento de medicamentos e inseticidas de base biológica. O mesmo artigo também revelou que o veneno da jararaca do norte tem grande utilidade farmacológica devido a diversidade de proteínas detectadas.


Pesquisas que exploram o potencial econômico de plantas, frutas e outros produtos da floresta também são bastante promissores. No Laboratório de Engenharia Civil da Universidade Federal do Pará, por exemplo, alguns pesquisadores estudam a viabilidade em utilizar caroços de açaí na produção de cimento ecológico para diminuir os impactos ambientais causados por esta indústria.


A Amazônia também possui outra riqueza imensurável que é uma peça-chave para o desenvolvimento da Bioeconomia: a sabedoria ancestral dos Povos dos Originários. O conhecimento das comunidades tradicionais da Amazônia são fundamentais tanto para entendermos e explorarmos o potencial dos recursos biológicos, bem como para preservar as florestas e recuperar as áreas degradadas.


Por isso, a Amazônia precisa de um modelo bioeconômico que gere produtos e serviços com alto valor agregado, mas que mantenha a floresta em pé. Além disso, a geração de riquezas não pode ficar concentrada só nas mãos dos grandes empresários e investidores, mas deve beneficiar principalmente as comunidades regionais.


É bastante claro que, conceitualmente, a Bioeconomia Bioecológica é a estratégia mais adequada para ser implementada na Amazônia. Afinal, ela prioriza em todos os seus processos a conservação dos biomas e dos ecossistemas, diferente das outras vertentes que consideram aceitável o comprometimento do meio ambiente em certo nível em prol do aumento produtivo.


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